Mural de Di Cavalcanti, projetado em 1954 e montado em pastilhas na parte externa da antiga redação e oficinas do jornal "O Estado de S. Paulo", à rua Major Quedinho.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

O que será que acontece?

Todas as manhãs vou para a estação Brás da CPTM, para embarcar sentido Calmon Viana. É neste momento que encontro com a 'massa trabalhadora' (não consigo defini-los como classe). Diariamente, muitas, centenas de pessoas saem dos vagões do trem igual a 'estouro de gado'. Uma massa que ao abrir as portas vão rapidamente em direção da estreita escada de concreto. Algumas preferem caminhar mais adiante para usar a escada rolante. Por alguns minutos fica impossível chegar na plataforma de embarque, pois as escadas só sobem, inclusive a de concreto.

Quando encontro com essa massa, seja no corredor (de lojas) que liga o Metrô à CPTM, nas escadas ou na plataforma fico a observar e procurar os motivos que levariam grande parte destas pessoas percorrerem o mesmo trajeto, todos os dia, praticamente enlatadas nos vagões dos trens. Existe uma afobação em chegar ao trabalho... será prazer em trabalhar? medo de atrasar e ser demitido? pressa em chegar para ver se logo acaba mais um dia?

As pessoas estão condicionadas, muitas com seus eletrônicos, com suas músicas prediletas para que todos ouçam, e percebam que ele carrega o símbolo de pertencimento ao grupo que alimenta a produção de bens de consumo. Suas roupas com marcas e código dos fabricantes mundiais... mesmo que falsificado podem carregar o símbolo, o código que identifica toda uma nação de consumidores.

E eu a pensar... onde será que vão? Trabalham onde? Como será o trabalho deles? Será que elas são as milhares de domésticas que tomam conta dos lares das famílias burguesas? As faxineiras, cozinheiras, copeiras.... são balconistas em lojas, boa parte deve fazer telemarketing... quantos deste trabalhadores que diariamente chegam ao Brás tem seus direitos garantidos.... São Camelôs, ambulantes... flanelinhas... O que fazem da sua força de trabalho? Os que embarcam comigo (em direção à periferia), em sua maioria homens, voltam de seus trabalho, nas empresas terceirizadas de segurança e portaria, é fácil sabe-los... usam uniformes, dormem durante o percurso... entre outros... enfermeiras (os), cuidadores de pessoas 'inválidas'... etc..

Todos os dias é um empurra, empurra... primeiro para entrar e depois para sair... e todo dia a mesma coisa... porque será que não se rebelam? Será que eles acreditam ser isso a vida... acordar cedo, muito cedo... sair de casa, deslocar-se 30 km, ou mais... trem lotado, vem espremido... enlatado... desce... corre... trabalha, trabalha, trabalha... e volta tudo... Dorme. E quando acorda tudo de novo... é tudo natural... estas são as ordens das coisas... e assim vai. A classe trabalhadora não tem tempo para si, só trabalham... vivem para trabalhar em vez de trabalharem para viver. Como vão 'se pensar' enquanto classe, por isso no início do texto identifico os trabalhadores como uma massa, uma coisa sem forma... um bololô... embolado, que a cada dia buscam a sobrevivência e a inserção social pelo consumo.

Um comentário:

Valéria ♡ disse...

Essa massa é classe sim, Lu! Desde que vc concorde comigo que vivemos numa sociedade de classes, essa massa (uniforme) é sim a classe trabalhadora... Uma classe trabalhadora alienada de suas reais necessidades, por meio de processos que afetam a subjetividade humana e promovem uma inversão da realidade... isso está em Marx. O dificil é transformar esta classe em si, em classe para si, com consciência das relações sociais em que estão inseridas, capaz de se libertar de uma superestrutura ideológica que a diz todo dia: Tome Coca-cola! (publicado no meu blog).